Era uma noite escura e tempestuosa, Roberta estava rolando de um lado para outro na cama enquanto eu estava sempre mais me encolhendo na beirada. Quando a luz começou a invadir o quarto pela janela, só faltavam poucos milímetros para eu cair no chão. Foi aí que decidir me levantar.
Roberta estava já acordada e com os olhos bem abertos:
– Antonio, não dá mais, estou muito preocupada com a situação do Planeta. Precisamos pensar em algo diferente. Tem que ser algo inovador, que use a tecnologia para plantar árvores.
Ao contrário da Roberta, o meu cérebro funciona como um motor diesel: na partida tem que esquentar e demora para ligar, mas depois pode continuar até altas horas. Demorei um pouco a entender do que se estava falando.
Na minha mente, ainda se recuperando do sono, começava a surgir uma imagem de como seria lindo aplicar o “CTRL+C” “CTRL+V” ao plantio de árvores, mas Roberta não parava e me trouxe de vez de volta a realidade:
– Tive um sonho hoje a noite. Foi o meu espírito guia que entrou em contato, de novo, exatamente como quando decidi me dedicar a empreendimentos de impacto social. Só que desta vez me deu esta dica. Ficou claro que meu proposito na vida é plantar árvores.
Eu tinha visto esta luz nos olhos da Roberta já outras vezes, mas desta vez era mais brilhante. Estava como uma chuva torrencial de primavera e não parava de falar:
– Temos que encontrar uma forma para tornar sustentáveis os projetos de plantio.
Eu ainda lembrava da nossa última conversa sobre este assunto:
– Sim, Roberta, já falamos de uma plataforma para conectar comunidades de produtores orgânicos com pessoas das cidades, em um formato de sociedade, com cotas de participação nas plantações e colheitas. Acho isso muito bom.
– Antonio, é algo maior do que isso! Precisamos plantar mais árvores, em um esquema de neutralização de CO2.
– Vai ser então tipo uma daquelas empresas que neutralizam emissões plantando árvores ou comprando créditos de carbono? Já tem várias que atuam desta forma.
Eu estava acostumado com este papel: o advogado do diabo. Acho isso útil no processo de criação de algo novo. Contribui com a dialética, ajudando para dar forma às ideias, assim como o vento vence a inércia da areia esculpindo as dunas.
Isso, é claro, é útil se usado nas doses certas para não causar brigas do casal.
Como de costume Roberta, o ser humano cuja essência mais foge do termo “inércia”, apenas seguia em frente. Parecendo um rio abrindo espaço e avançando nas crateras de um canyon, acrescentava novos detalhes:
– Precisamos que isso seja escalável, não engessado como os créditos de carbono. Uma forma de compensar com contribuições das pessoas algo mais simples, sem a burocracia dos esquemas internacionais. Tem que ser uma ação ligada a atividades do dia a dia. Valores pequenos cobrados como compensação ao uso de serviços e produtos que emitem CO2.
Aos poucos estava tomando forma um modelo, ainda cru, que precisava ser validado, estudado e lapidado, e com o qual outros parceiros pudessem se encantar e contribuir. Mas… tá aí, não era uma má ideia e poderia até ser a origem de um novo projeto bastante interessante.
Este foi o dia em que a CoClima deu seu primeiro respiro e nem nome ela tinha ainda.
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